domingo, dezembro 19, 2010

Ilusões

Uma dia ela acordou no susto,
estava voando

Era um pássaro
dos grandes
bateu as asas cor de ouro
e se foi

Olhou para os lados e se viu na janela
do quarto
ainda escuro

Mirou o infinito
e se jogou

Acordou no susto
se machucou

Por que ela era
na verdade
uma flor

sexta-feira, dezembro 03, 2010

INDEPENDENTEMENTE CONFUSA E A SUPER SEGURA EM: UM CARINHA DA INTERNET

Um dia a Independentemente Confusa olhou no relógio e viu que estava atrasada. Pulou da cama, olhou para os lados, pegou o lençol, se cobriu e foi até o banheiro com medo de encontrar mais alguém no seu apê vazio. Tomou um banho demorado e saiu enrolada na toalha. Entrou em seu quarto enxuta, passou seu hidratante cheiroso no corpo todo, se vestiu, pegou a bolsa já arrumada do dia anterior, olhou para cima da mesa e viu seu copo de whisky aguado e lembrou da noite online, seu date cibernético. Levou a mão à cabeça e sorriu sozinha só com o canto dos lábios.

Chegou ao trabalho e entrou online. Ele não estava. De repente pula a janela da amiga Super Segura, que já estava de pé fazia algumas horas, trabalhando de casa.

SUPER SEGURA - E aí amiga? Como foi ontem?

INDEPENDENTEMENTE CONFUSA - Oi! Foi louco. Ele estava especialmente inspirado.

SS - Mas vocês ficaram conversando on line?

IC - Exatamente assim como estamos agora.

SS - Hummmmmm

IC - Não gosto de câmera, você sabe.

SS - Mas e aí??? Ele vem?

IC - Como vem? Vem pra onde?

SS - Ué? Vem te ver!

IC - Amiga, ele está no Rio.

SS - ?????

IC - É...

SS - Não entendi na-da.

IC - Pô, ele está aqui há uns três dias.

SS - E aíiiiiiiiiiiiiiiiiiiii?

IC - Não sei, a gente marca de se ver e na hora acha melhor ficar na internet. Acho que tenho medo do encanto se quebrar. Da fantasia virar realidade. Dele não ser tudo que espero.

SS - É, você corre esse risco. Ele também. Mas não faz o menor sentido ele vir pra cá só pra te ver e você não se encontrarem, concorda?

IC - Sim, sim...


Tempo.


IC - Amiga, preciso ficar offline. Minha chefe chegou e tenho um monte de coisas para fazer.

SS - Ok, ok. Té já. Bju

IC - Bjoca


A Super Segura fecha a janela da conversa, maneia a cabeça e volta a trabalhar. Do outro lado a Independentemente Confusa, minimiza a conversa e a janela do email, respira e levanta para pegar um copo d’água. Quando volta tem uma janela piscando. É ele:


ELE – Oi bonita.


Ela olha com a atenção de quem está lendo um parágrafo de um texto intenso. Segura o coração que pula desesperadamente. Fecha a janela e o email. Começa a trabalhar. Não consegue. Não tem concentração. Ela fica online novamente. Ele não fala. Ela então puxa a conversa:


IC – Oi.

ELE – Como está? Sobreviveu?

IC – Sim. Rs! Um pouco cansada. Mas está tudo bem.

ELE – Que bom. Fica na paz, viu?


Tempo


IC – Ok.Obrigada.

ELE – beijo e se cuida.


A Independentemente Confusa deixa a janela aberta da conversa e segura o choro. A angústia chega a invadir o corpo todo. Se sente fraca, quer sair de onde está, quer voar até sumir no infinito e chegar a outro lugar, ou até mesmo voltar no tempo. Não seria mal voltar no tempo. Dia perdido. Ela não conseguiu fazer nada no trabalho. O telefone toca, ela treme, mas é a amiga Super Segura:


SS - Oi Amiga? Tá tudo bem? Você ficou ausente o dia todo, não respondeu mais no GTalk nem no Facebook - pergunta.

IC - É amiga, muito trabalho... – responde desanimada.

SS – Sei... E o carinha?

IC – ah, sei lá - Tenta disfarçar.

SS – Não vão se ver mesmo? – Desconfia.

IC – Ele foi embora hoje à tarde - Conformada.

SS – Como assim, neguinha?!! Tá doida!! E não se viram? – Inconformada.

IC – é amiga, acho que não rolou...

SS – Cara, o que houve?!!!

IC – Ele ontem veio com esse papo que está confuso, que não sabe direito o que quer, que gosta muito de mim, mas que não quer me magoar. Acho que ficou com medo de me ver. Legal né?- Irônica.

SS – Afffe! Mais um desse tipo. Babaca! – Desacreditada.

IC - ...

SS – Ah cara, covarde ducaralhou! Ficou com medinha, é? Melhor ficar mesmo! Você é
muito mulher pra um merdinha desses.

IC – Pô, amiga, muito obrigada, mas acho que gostaria de ouvir outra coisa - Risos! – Desarma.

SS – Hahahahaha! Desculpa, mas é que esses homens contemporâneos estão me saindo bem piores do que as mulheres. Isso me dá uma certa indigestão – Sincera.

IC – amiga, já estou na porta da sua casa.

SS – Então sobe aí. Vamos tomar um saquê com lichia! – Convida animada.

IC – Ah, o que seria da minha vida sem você! - Sorri sem som.

SS – Ih, menina, então, você não sabe quem me ligou hoje?! – Muda o tom.

IC – Quem? O Roberto?! – Se interessa.

SS – Exatamente!


E a Independentemente Confusa entra no prédio com a amiga ao telefone. A conversa vai ficando longe. Vão se divertir e chorar algumas mágoas. Mas a noite será ótima! Bem melhor do que com “Ele”, acredite. Risos.

sábado, setembro 25, 2010

Coração machucado

Meu coração machucado quando encontrou seu coração machucado, expirou ressabiado

O seu coração machucado não tinha curado, e assim como o meu coração machucado teve pressa de chegar

Atropelos em busca de curas só resultam em gaze e esparadrapos a mais para estancar

Os corações machucados se abraçam, querem ao menos respirar
As cicatrizes são até bonitas e guardam histórias, tudo pra recomeçar

Porém, o recomeço precisa primeiro terminar

Ou depois, o seu coração machucado acha o pouso desconfortável, pois o meu coração machucado não tem mais band aids pra lhe dar.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Aos amigos, uma breve ode!

Uma breve postagem sobre os amigos. Eles merecem.

Aos bons amigos, aos sinceros, aos que nos amam de verdade, aos que torcem por nós e lá no íntimo dividem todas as emoções.

Esses sim são os verdadeiros guerreiros que estão ao nosso lado sempre que precisamos, solicitamos ou simplesmente piscamos os olhos.

Queria deixar aqui todo meu louvor a esses grandes amigos que me acompanham e verdadeiramente estão ao meu lado. Sempre.

Muito amor, muito, muito.

sexta-feira, julho 23, 2010

Um pouco e só

Parei de te ver como luz
Parei de sentir como dó
Parei de esperar como bus
Parei de chorar como pluie

Agora andei, caminhei
Marquei e segui
Ensaiei sem olhar
Ceguei
O dia podia me lembrar

Guardei, juntei
Tá lá.

Tudo amassado, amuado
Um dia eu abro
Carrego e jogo no espaço

Preto no branco
sem embaraço.

quarta-feira, julho 14, 2010

A mulher do Saci

Compartilhando a frase do dia:
"Feliz mesmo é a mulher do Saci, pois sabe que se levar um pé na bunda, quem cai é ele" - assinado, Mestre dos Magos (facebook)

Genial!

terça-feira, julho 13, 2010

O presente

Um misto de emoções se funde no exato momento que recebe um presente pelo qual esperava demais, mas muito mesmo, há muito anos. Não há de se pagar todo esse tempo de espera. Ele construiu a história e a vitória. Não sei bem se é a tal felicidade ou a conquista, ou as duas juntas. Daí, você paralisa no tempo. Dá um nó. E para desatar, mais algumas areias hão de andar pela ampulheta...

domingo, junho 06, 2010

A volta

Um dia alguém me disse que sonhava muito com ele. Disse que ele viria. Estava esperando ele chegar à tarde, entre às 16h e às 17h. Era essa a hora em que ele apareceria de volta. Sempre, às 15h30 saia do banho, se perfumava e se debruçava na janela olhando discretamente para o fim da rua, de onde ele surgiria. Era esse perfume que ele reconheceria, a conheceu com ele, conviveu ao lado dela com esse cheiro e, portanto, ela não poderia mudar odor para não confundi-lo. Achava justo.

Me contou que ele se foi numa tarde de domingo. Ele saiu um pouco mais cedo que de costume, saiu pela porta da frente, apressado. Ela jura que foi atrás de algum rabo de saia que viu passar. Ele não deu explicações. Apenas não mais voltou. Desde então ela o espera na janela, entre às 16h e 17h. Já fazia sete meses e ele se quer deu notícias. Mas ela jurava que ele voltaria. Ele estaria ali, na porta de sua casa entre às 16h e às 17h de uma tarde qualquer. Por isso ela nunca faltava ao compromisso. Não se perdoaria se um dia ele aparecesse e ela não estivesse ali para recebe-lo.

O perfume já havia sido comprado três vezes. O vidro era pequeno e não podia faltar. Ele talvez não a reconhecesse sem esse cheiro. A porta da casa também era aberta sempre no horário marcado para que ele não tivesse dúvidas que voltou. Era o seu lugar. Ele haveria de voltar.

Os vizinhos já comentavam, falavam injúrias. Não se sabe como ela conseguia viver assim nessa esperança. Diziam "esperança vã". Ela dava de ouvidos. Continuava a se perfumar. "Ele vem, eu sei", dizia ela.

Um ano se passou, e ela continuava a se pendurar na janela e olhar discretamente para o fim da rua. Tinha certeza que ele voltaria. A porta aberta e o perfume no ar, não haveria como ele se enganar.

Todos diziam que ele parecia muito fiel, companheiro. Estava sempre ao lado dela. Não haveria como se confundir. Mas ela não podia se permitir a falhas, ele não poderia passar reto sem reconhecer a casa. Ela jogava seu corpo na janela e mirava longe. Não poderia. Não se perdoaria. E assim seguiu a espera-lo por mais dois anos, sem perder um dia se quer. Para ela, não houve um senão que a fizesse desistir. Só aquela maldita dor nas pernas, que um dia a levou para a emergência mais próxima. Ela não mais voltou.

A casa continua de portas abertas. Toda tarde alguém abre as portas e borrifa o perfume. Ele vai voltar. Ele fora o cão mais fiel que todos conheceram naquela vizinhança, e ela, a dona mais dedicada que todos já tiveram notícias por aquelas bandas de lá.

sexta-feira, junho 04, 2010

DICA DE FILME

Vejam o filme "A onda" (Die Welle) e pensem, pensem, pensem...

Um filme sobre o vazio que não deve ser preenchido e que, segundo uma amiga psicóloga das boas "Precisamos aprender a conviver com ele".

Segue o trailer: http://www.youtube.com/watch?v=ZbyCJEIRBaA

Vejam e depois me passem as impressões. Eu não consigo parar de pensar...
Beijos e bom fim de semana!

sexta-feira, maio 28, 2010

sábado, maio 22, 2010

INDEPENDENTEMENTE CONFUSA E A SUPER SEGURA EM: A EMERGÊNCIA DO MUSO

As duas amigas estão comendo em um japonês da Zona Sul. De repente a Super Segura começa a passar mal. A Independentemente Confusa não sabe ao certo o que fazer, pois, raras foram as vezes que viu a amiga reclamando de dor.

A Super Segura sai às pressas, entra numa farmácia, compra um remédio para úlcera - que ela toma desde seus 15 anos -, e volta para o restaurante. Uma hora depois ela não melhorou e as duas decidem correr para a emergência de um hospital.

As duas entram na sala de espera de uma clínica na Gávea e dão de cara com um dos maiores musos do Brasil sentadinho, sozinho. Elas se entreolharam em cumplicidade. A Super Segura estava pálida, com as mãos no estômago. Isso até preocupou a Independentemente Confusa, que, de certo modo, ficou culpada por ficar “empolgada” de estar ali, NAQUELE momento.

Sentaram. Um silêncio sepulcral e de repente a Independentemente Confusa repara o rapaz, no banco oposto, balançando os braços para cima, para o lado, para baixo, com o olhar fixo no Iphone. Estava jogando um joguinho desses animados que distraem qualquer um. Ele olha pra cima:

- Oi, é que estou esperando há um tempão e não tinha o que fazer, né, daí to aqui... jogando - Comenta, muito sem graça, o muso, depois de perceber o olhar de curiosidade da Independentemente Confusa.

- Ah, não se preocupe. Estava só lembrando que hoje à tarde eu estava brincado com um joguinho também – Responde rápido, a Independentemente Confusa.

- Ah, sim, é bem divertido. Distrai. Ficar aqui esperando horas requer um pouco mais do que só paciência, né? - O muso continua o papo.

- Sim, sim. É verdade. É bom que faz passar o tempo sem sentir – Sorri, a Independentemente Confusa.

- Mas as pessoas olham e não entendem nada, assim como você... – Comenta, com os olhos arregalados, o muso.

- Eu entendi, sim. É que a gente fica parecendo retardado levantando o braço, seguindo com os olhos um aparelhinho, né? – Completa, a Independentemente Confusa.

- Ah, retardo, né? Sim. Era assim que estava me vendo – Indaga entre risos, o moço.

- Hahahaaha! Imagina, só visualizei a cena de hoje, eu com um quadrado levantando e descendo, pra um lado e para o outro. As pessoas passavam olhando, olhando... – Tenta amenizar o comentário anterior, a Independentemente Confusa.

O atendente da clínica grita o nome da Super Segura. A Independentemente Confusa pede licença ao rapaz muso e acompanha a amiga. Em um dos boxs de atendimento, enquanto a médica faz perguntas à Super Segura, a Independentemente Confusa ouve os médicos comentando um caso grave. “Dor no peito... Acho que teremos que internar hoje mesmo. Onde está o paciente? Ah, sim, na espera”. “Pronto, é o muso!”, pensa imediatamente a Independentemente Confusa. Não tinha mais ninguém na espera, tinha de ser ele.

Ela corre para sala de espera e vê o muso ao telefone e ouve “Tô aqui na emergência esperando os resultados os exames. Pois é, eles quiseram fazer imediatamente”. Ela aperta a blusa na altura do coração e já imagina um fim trágico para o rapaz. Volta para ver a amiga Super Segura, mas ela está bem, tomando remédio na veia e conversando com o enfermeiro. Corre para fora novamente e começa a querer distrair o muso:

- E aí, rapaz, o que te traz aqui?

- Saúde... A idade... – Responde evasivo, o muso.

- Ah, sim. A saúde... – Retruca na mesma linha, a Independentemente Confusa.

De repente a Segura Segura surge na porta de saída. Já está bem. Ela para e pede uma água. A Independentemente Confusa conta o que está acontecendo à amiga. Elas vêem uma unidade móvel de dor torácica entrar no pátio da clínica e já imaginam que irão levar o muso. Elas voltam à sala de espera para tentar descobrir a verdade:

- Olha só, sua amiga já melhorou. Está tudo bem? - Pergunta, o muso.

- Pois é, não era nada demais, só uma crise de gastrite – Responde a Super Segura.

- Hum, bom, então daqui a pouco passa. O duro é a gente sempre achar que está cheio de saúde e de repente começa a sentir alguma coisa estranha – Comenta, o muso.

- É, nada agradável essa situação – Comenta a Super Segura.

- Mas nada é por acaso, conheci vocês duas, uma simpatia só – Afirma com um sorriso largo, o muso.

- Ah, imagina, obrigada – Respondem, as duas amigas, fazendo dengo para o muso.

- Então, o que vão fazer depois daqui? – Pergunta o muso.

- Acho que vamos pra casa mesmo – Responde a Super Segura – Ainda que não pareça, não estou muito bem – sorri.

- Ah, que pena, não topam um papo no temaki, aqui em baixo, pra relaxar? – Convida, o muso.

E o nome do muso é chamado em alto e bom som. Ele corre sem esperar respostas ao convite. Olha pra trás e faz sinal para elas o esperarem. As duas se entreolham e rapidamente já se preparam para consolá-lo. É uma pena, elas têm certeza que ele sairá de lá direto para a unidade móvel. Entreolham-se com sentimento de pena. Mas logo a Independentemente Confusa vê a oportunidade de ficarem amigas do muso, se aproximarem. Já estavam sentindo que ele iria precisar muito delas naquele momento, sozinho, numa emergência de hospital. Elas começam a arrumar uma a outra, passam batom, ajeitam o cabelo fora do lugar. Ouvem os médicos se prepararem para a retirada do paciente e ficam de pé, prontas para o muso cair em seus braços.

De repente vêem um farol forte, olham para trás, pelo vidro da recepção, e uma pick-up está parada com motor ligado na porta da clínica. O muso sai apressado, com papeis em uma das mãos e o Iphone na outra. Faz sinal para o carro. O vidro do carro desce, uma musa o espera. Abre a porta do carona e o muso entra. Ele vê as duas amigas, arrumadíssimas na recepção. “Grita baixo” um “muito obrigada pela companhia”, as duas acenam através do vidro. Olham para frente e uma moça, de uns 65 anos é levada de maca para dentro da unidade móvel para dor torácica. Entreolham-se e:

- Porque fui cair nas suas baboseiras imaginárias outra vez... – Lamenta, a Super Segura, levando a mão ao estômago novamente.

- Mas amiga... Eu achei que... – Tenta falar, a Independentemente Confusa.

- Vamos amiga, vamos! – Corta a conversa, a Super Segura.

As duas vão andando em direção ao carro. A Super Segura balança a cabeça baixa negativamente, enquanto a Independentemente Confusa não para de tenta explicar. Entram no carro com sentimento de frustração passageira e vão embora, a Super Segura em silêncio na direção e a Independentemente Confusa, sem parar de falar, no carona.

domingo, maio 09, 2010

Passa

O tempo
passa

anoto
guardo

e da próxima
menos.

quinta-feira, abril 01, 2010

INDEPENTENTEMENTE CONFUSA E SUPER SEGURA EM: O PLATÔNICO - 1

Um dia a Independentemente Confusa começa a falar em um tal menino, que ela encontra na internet, e que já viu umas duas vezes por conta de encontros casuais. Ele é amigo de alguns amigos de outros amigos dela. Para ela, ele é um cara inteligente e interessante, e assim, acabou despertando a imaginação de um caso perfeito pra aplacar sua carência momentânea.


- Amiga, ele é incrível. Fala cada coisa inteligente – conta entre suspiros e mãos trêmulas à Super Segura.

- Tá, mas vocês vão se ver quando? – Indaga, com uma certa preguiça, a Super Segura.

- Pô amiga, não sei. Não sei se é pra a gente se ver. Eu gosto de ler o que ele escreve...


Um mês se passa, e as amigas decidem ir a uma festa badalada da Zona Sul. Só se comenta das fantasias que irão usar, de quem vão encontrar, das fofocas entre amigos. Elas se encontram no apartamento da Super Segura, demoram horas colando estrelinhas e espalhando a purpurina. Seguem animadas pra festa. Lá pelas tantas, a Independentemente Confusa decide dar uma voltinha pela festa... e de repente:

- Ei, ei! Você por aqui?!

Ela olha pra trás, desconfiada, vai chegando bem perto do menino com óculos escuros, chapéu, colar de havaiana, uma peruca roxa. Ela chega mais perto, esfrega o queixo, olha para os lados:

- Oi, mas, quem é você? – Diz insegura , a Independentemente Confusa.

- Eu, cara! O amigo da Carol, irmã da Julia, namorada do Pedro – Relembra o moço, recolocando os óculos.


Nessa hora a Independentemente Confusa sente seu coração disparar. "É ele! É o Platônico!" Ela pensa rápido, faz cara de "ah, sim, claro" e fala:


- Ah, sim, claro. Poxa! Que legal te ver!! – Abraça o moço – Essa aqui é minha amiga – apresenta a Super Segura, que dá um sorriso largo e continua sem falar nada.

- Oi, prazer – cumprimenta de longe – E aí, depois daqui, vai fazer o que? – Nessa hora o Platônico olha profundamente pra Independentemente Confusa, pega seu copo e dá um fole bem demorado.

- Eu? Eu... eu vou pra casa – sorri amarelo, pega o copo da mão dele e bebe três goles diretos.


Aqui a Independentemente Confusa já está completamente dominada pelo desespero de não saber o que dizer frente a frente ao seu ideal de casamento perfeito e feliz.


- Ah, pra casa? É? Sério mesmo? – Insiste o Platônico.

- É... – responde desorientada, a Independentemente Confusa.

- Poxa, eu acho que ainda vou pra aquele bar ali da esquina.

- Ah, sim. Legal – Se segura a Independentemente Confusa.

- Bom, vou indo – se despede o Platônico.

- Ah tá. Beijos.

- Bom te encontrar além da internet – arremata boniiiiiiiiiito, o Platônico.

- Sim, também adorei – A Independentemente Confusa se contem e sai com muita vontade de gritar!


Olha pro lado e lá está a Super Segura olhando com um sorriso de canto, esperando a euforia da amiga.


- Amigaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Putaquelpariu! Esse aí é o...

- Platônico.

- Isso!! Como você sabe?!! - Pergunta surpresa a Independentemente Confusa.

- Ah, só podia ser, ora. E aíiiiii? - Pergunta curiosa a Super Segura.

- E aí que não sei. Sei lá. Sei lá não sei. Vamos pro bar!!!!!!!!!!!! - decide a Independentemente Confusa.

- Hahahahahahaha! Tá bom. Mas antes vamos ali pegar mais um cerveja.


Umas duas horas depois as duas saem da festa e correm pro bar da esquina. Olham em volta. O bar está cheio, entupido de gente. Elas pegam mais uma cerveja, conversam com um e com outro. A Independentemente Confusa não para de olhar em volta. Nada do Platônico. Decidem ir embora. A Super Segura vai consolando a amiga.

Dias se passam e os dois online, um pouco de papo, mas nada. A Independentemente Confusa decide parar com essa coisa platônica. Arruma um namorico e segue sua vida. Às vezes ela bate um papo com o Platônico e tal, mas nada demais. Até um dia num desses MNSs da vida:


- Ah, você vai amanhã? - Pergunta o Platônico.

- Vou sim. Tô precisando me divertir um pouco - Responde reticente a Independentemente Confusa.

- Estou precisando também. Eu vou. Te encontro lá! Você vai, né? - Desbafa o Platônico

- Vou, vou sim. Você vai com quem? - Investiga a Independentemente Confusa.

- Vou encontrar você lá, ué?! Ou é melhor não? - Joga na roda, o esperto Platônico.


Silêncio. Coração dispara! Ela não sabe o que responder. Ela vai estar com o seu peguete. "Putaquilpariu! Sempre quis que esse homem tomasse alguma atitude, mas tinha que ser DESSA vez?!" Pensa alto a Independentemente Confusa. Liga rápido pra Super Segura, que sempre tem o melhor conselho a seguir:


- Amigaaaaaaa! O que que eu façoooooooo? - Pergunta enlouquecida a Independentemente Confusa depois de explicar a situação.

- Ué? Diz a verdade. Fala que é melhor outro dia, que amanhã estará acompanhada. Ou esse cara pensa que você fica esperando ele há meses? - Impele a Super Segura.

- Será?! Ai meu-Deus! Vou escrever - Decide a Independentemente Confusa.


Desliga o telefone e escreve: "Melhor deixar pra próxima, querido. Amanhã estarei acompanhada na festa. Se tivesse me dito antes...". Ele responde: "ok". Ela pensa "ok????? ok???? Ok! Chega disso. Chega dessa emoção. Pô, não mereço isso!". Fecha o notebook, respira, liga pro peguete, se enche de coragem e diz:

- Oi, tudo bem? É... Então, bonitinho... Estava aqui pensando... Não vou à festa amanhã. Cansei, sabe. E sabe, melhor a gente parar por aqui. Acho que preciso ficar sozinha. Não quero te fazer mal, sabe. Não, não, o problema é comigo, não é com você. Relaxa. Adoro você. Seremos bons amigos.


Vai tomar um banho bem demorado. Deita na cama e pensa no dia seguinte, quando abrirá seu note book e verá o verdinho piscando do platônico online...

quarta-feira, março 24, 2010

Juliana...

Um dia Juliana olhou pela janela e viu que ventava. As árvores longínquas dançavam ao som do movimento. Juliana olhava com vontade de estar lá, no topo, bailando com as folhas que caiam e giravam até o chão. Lá de dentro ela tremia de frio, o ar condicionado estava no máximo. Tinham homens na sala. O casaquinho fino que apertava os pulsos, nada acalentava seu coração vazio. E todo dia era assim. Lá se vai Juliana pela rua atrás das árvores que via lá de longe, dançando.

sexta-feira, março 12, 2010

A song way

Ah, a música
ela não para
dentro de mim

entra
sopra
morde
e fica

beija
lambe
esfrega
e fica

joga
bate
machuca
e fica

aperta
chupa
cospe
e fica

suave
balança
distrai
e fica

segura
confia
segue
e fica

arranha
entorpece
enlouquece
e fica

raspa
assopra
cheira
e fica

engole
enfia
e finca

****

(Gardênia Vargas - 12/mar/10)

TROTE PELA CULATRA

Hoje, pela manhã, a "prima Dilce" recebeu uma ligação surreal! Segue a conversa para análise dos leitores:

- Alô

- Mãe, mãeee... Aiiiii, ai, ai!

- Alô?

- Mãaaaaaaaaaaaeeee... Socorooo... Aiiii, ai!

- Fala minha filha, fala Catarina, fala com a mamãe.

- Mãaaaaaaaaaae!

- Fala, minha filha, onde você está? Se não falar a mamãe não tem como te ajudar...

- Mamã... Olha só, já saquei que tu não tem filho porra nenhuma e tá de ironia com a minha cara. Então vô mandá a real: xonei na tua voz, princesa. Podexá que nenhum malandro vai te mais ligar.

(silêncio)

- Seguinte, não precisa ficar com medo, não. Tô na moral. Tô todo se quereno pá tú, princesa. Só isso.

- Ah, tá. E de onde você fala?

- Pô princesa, moro nos prazê.

- Ah sim...

- Pô, na moral, a verdade é outra, princesa. Num sô bicho, não, mas tô mermo é engaulado aqui em Bangú 3, mas já tô de saída. No fim de março já tô na rua. E sabe qual é, não tô mais afim de parada errada, não. Ô princesa, vô mermo é ficá na moral, no sapatinho. Quero um trabalho direito, criá meus bacurí e o caralho. Mas sabe com é, né? Vô ter que portá minha 40. A gente tem uns inimigo aí... É melhor ficar ligadoo, né não, princesa?

- Tá dizendo, né? Tá certo.

- Mas então, como é que a gente faz pá... pá... tu sabe, né princesa... pô, pá gente se encontrá, bater um lero, essas coisa e tal?

- Mas amigo, você não tá preso?

- Tô princesa, mas já tô de saída. Faz o seguinte, anota aí meu telefone: (numero). Qualquer parada tu me liga! Xonei nim tu.

- Ah tá, pode deixar. Obrigada.

- Meu nome é Wesley. E o seu?

- É... (inventando) Valesca.

- Então Valesca, me liga mermo.

- Pode deixar. Obrigada.

- Não, cara é sério, rapá. Pode ligá. Ta dominado, princesa. Ninguém vai mais te ligar, não. Já tirei teu número das mão dor malandro aqui. Pó ficá tranquila. Mas pô, tô todo se quereno pá tú..

- Obrigada.

- E vem cá. Tu mora onde?

- (pensando) Em... Laranjeiras. (mentira)

- Hummm, mora de aluguel?

- Sim.

- Ih, tadinha! Pô, se quisé te tiro dessa vida. Me liga, princesa. Agora preciso ir.

- Se cuida.

- Foi mó prazerão falá com tu.

tuuuuuuuuuummmmmmm tuuuuuuuummmmmmmm (acaba a ligação)

***

terça-feira, fevereiro 23, 2010

BOTAFOGO: Mais uma prova de amor!

No dia seguinte que o Botafogo ganhou do Flamengo, recebi essa carta do meu pai, botafoguense até o último fio do cabelo que ainda lhe resta!! Achei bonito e resolvi postar em mais uma prova de amor ao velho, que igual ao Botafogo, mesmo cheio de erros e acertos, me ensinou o valor de amar incondicionalmente.

"QUERIDA, TOU NA RESSACA DA VITÓRIA DO BOTA SOBRE O FRAMNENGO.

Foi Hilário. Não ia passar o jogo (Garopaba / SC), fiquei vagando de noitinha e achei um bar chulé cheio de framenguistas onde ia passar a pugna. Eu não queria perder. Pra mim é o melhor jogo do mundo! Tavam todos de camisa horrorosa e sacaneando: tamos cum pena. Já foi!

Ainda comentei: O Bota é zebra, mas a Unidos da Tijuca tambem era! Não sei se entenderam...

1° TEMPO

Tudo bem, somos fleumáticos, somos Bota, e Fogo, fiquei sentado numa cadeira lá do canto. Parecia que estava sózinho. No primeiro minuto, quase QUASE QUE O fOGO FAZ UM GOL, FIQUEI FRIO, DEPOIS O FLA DOMINOU, DOMÍNIO ESPÚRIO, SABE COMO É, e fez um gol bobo, fruto de uma bobeira "nossa".

Não me apavorei. O juiz roubava descaradamente para o Urubu, um escândalo, como sempre, impune. Temos poucos craques, mas temos craques. Um deles é o Herrera, maravilhoso! Outro é o lateral esquerdo, e temos a torre Loco Abreu. A bola foi levantada, Loco desviou lá de cima, Herrera dominou espetacularmente, fez um giro lindo, difícil, coisa de craque, e soltou a bomba. O goleiro do Fra rebateu e o Marcelo, o lateral, pegou de primeira. Gol! Golaço! Claro que não me segurei, levantei pulando... A galera ficou me olhando numa boa, vi o pavor na cara deles.

Daí um velhinho que estava encostado no bar tomando umas pingas, veio caminhando e me abraçou. Você é Botafogo? Somos nós dois! Não te conheço mas agora você é meu amigo! (Coisas de botafoguenses) Nos abraçamos, cheios de confiança, acaba o primeiro tempo.

INTERVALO

Pedi uma água sem gás, umas paçoquinhas, (não tinha nada no bar, do que eles vivem? Cachaça e cerveja?) e me animei a fazer uns comentários. O pessoal é Framengo mas é decente,é, era agressivo, pudemos conversar e pude reclamar das roubadas horríveis do juizinho, como sempre foi.

2° TEMPO

Começa o segundo tempo, o Fogo tava diferente, temos o melhor técnico do mundo e achei que dava. O Framengo "perdia" gols, na verdade, para um cara como eu, que passou a vida jogando e vendo futebol, não perdiam era nada, eram lances normais, e pude sentir o desespero, AQUELE DO "QUEM PERDE LEVA" e daí o nosso técnico lindão, o Joel Santana, colocou aquele que a galera pedia, o Caio, o nosso Pelé branco. Tudo mudou, o garoto de 19 anos entortava todo mundo!

O Bota brigava, era final de Copa do Mundo e nós queremos e gostamos de ver RAÇA, você sabe.

E raça tinha, e futebol tambem. Outro levantamento, e outra vez o Herrera (eu te amo, Herrera!) deu um toque lateral pro Caio que entrou rachando, numa divida, e ela, a redonda, a mais amada, foi pererecando pra dentro do gol. Gooooooollllllllooolll !Gol de raça! Assim é que é bom!

Daí não aguentei mesmo! Pulei, gritei e corri pro meu velhinho praquele abraço gostoso. Ah! Que bafo horrível e gostoso de pinga! Quase que dei um beijo nele, mas aí era demais. Se fosse você, seriam mil beijos!

E os framengos foram murchando, eles só sabem ganhar, não sabem perder, ganhar é fácil, perder é que é dificil, daí é que tem que ter grandeza de saber que nada como um dia depois do outro! O Juiz ainda arranjou tres minutos roubados pra ver se conseguia o empate do Urubu, MAS O DIA ERA NOSSO, ESTAVA ESCRITO HÁ MIL ANOS! ACAAABOOOUUUU !!!!

FIM DE JOGO!

Aí o velhinho pirou, o sorriso sem dentes era lindo, pediu mais uma, me abraçou de novo, os urubus foram saindo de fininho e ficamos nós dois comentando o jogo, e o dono do bar, Fra, com a pintura na parede olhava calmamente, teve classe. O bar era na rua lá embaixo, fui caminhando flutuando, feliz, tinha que encontrar os amigos! Como somos bobos, e como é facil ser feliz!

É temporada aqui, a cidade tá cheia de camisas do Gremio e do Inter, fui andando no meio dos estrangeiros até o bar lá da praia onde nos reunimos, e meus amigos tavam lá.

Só eu Fogão, mas fui festejado por todos. Gente educada. Até os Urubus me abraçaram, bacana. Lembrei da frase imortal: "torcer para time de massa é falta de imaginação!" e beijei o escudo que estava no meu chaveiro. E aí gritei: tem que aturar! Ninguem ganha na véspera! O Fra tava de salto alto! O Caio é o novo Pelé! Tem que respeitar o time do Garrincha e do Nilton Santos! Do Jair! Do Túlio! Do Herrera ! Viva o Loco que é Loco mas não é burro! E outras barbaridades. Tomei outra água mineral sem gás e depois fui procurar coisa melhor pra fazer. Afinal, um dia especial!

Hoje acordei assim. Tou com o velho calção do Bota, a camisa que comprei quando estava contigo, empatamos com aqueles chatos, lembra, que ano foi isso, sei lá, e está ali, pendurada, e vou escolher qual vou usar hoje. Talvez a retro do Nilton Santos, a Enciclopédia do futebol!

Hoje vou desfilar a estrela. Vitória não é todo dia!

Toca o telefone. Tenho que ir no restaurante trocar umas fotos, as molduras estão pesadas, e depois de tarde colocar mais vinte e cinco fotos de música, cães, natureza, algumas mulheres (ninguem é de ferro) e depois te conto dos sucessos que virão.

Será que dá pra colocar esta bobagem emocional no teu blog? Cê que vê.
Te amo, me arrepio ao saber que voce é Botafogo!
Essa é uma enorme prova de amor que voce me dá!
Alem de existir na minha vida! Te amo, te adoro, forever!
Sermpre sempre, sempre, pra sempre!

Pappai"

E TEM JEITO DE NÃO SER, PAI?

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

E se o carnaval não deixar passar...

Um dia um moço chegou e tentou roubar de assalto seu coração. Ela não deixou. Como há tempos ninguém tira seu fôlego, decidiu que iria tentar desamarrar as amarras que o tempo traçou. Abriu a guarda, era o escopo, deixou entrar.

- Olá moço, você veio. Mas logo vai, não é mesmo?
- Minha intenção é essa, menina bonita.
- Assim é bom. Já fico sabendo. Assim é bom.
- Que assim seja.

Dias se passam, ela deixa o relógio flutar.

- Mas já vai... Passou tão rápido. Foi bom ter te conhecido.
- Eu vou, mas já volto.
- Não era esse o combinado.
- Nem tudo pode ser seguido à risca, menina bonita.

Horas se passam, minutos apertam e ele volta. Ela consegue escapar por mais alguns milésimos de segundo. E para o ponteiro!

- Bom te rever, moço. Você me parece bem.
- Sim, muito bem em revê-la, menina.
- Mas você vai em quantos dias?
- alguns mais e me vou.
- Agora de vez?
- Talvez.

Dois dias. Ela abre as janelas.

- Desculpe, mas não tenho mais que uma madrugada.
- Não me importo, menina, é na madrugada que as flores abrem e exalam o perfume.
- Que assim seja.

E foi. Contudo, durou mais que o previsto. Dois dias e o carnaval. Era abrir as portas ou fechar as janelas. Ela fechou. Não quer mais o que o tempo não modificou. Ele não entende porque ela foi tão consumida pelas horas tortas. Ela não consegue decodificar o que os minutos fizeram com eles nesse conta-gotas diário.

- Ficará por muitos anos aqui dentro. Lembranças ricas dos bons minutos a dois.
- É de pedra seu coração?
- Não, é mais macio do que aquela nuvem a passar... Mas se condensado, ele chora.
- Não dá pra segurar tudo, menina bonita, um dia há de chover.
- Já choveu muito, e ainda não sei se consigo dominar uma tempestade. E isso é bom. Não é de pedra meu coração.
- Pensei em encontro de almas.
- Pensei em conhecer-te melhor.
- Pensei em viver e só.
- Você pensa do seu jeito e os segundos passam... sem olhar pro outro que está segundos regurgitando aqui.
- Não compreendi.
- Um dia pode ser que nossos corpos, esses sim, se entendam. Porque as almas, essas sim, não se entenderão jamais. Não são feitas pra isso, moço.


O relógio gira. E continua a girar.

(Gardênia Vargas - 23/fev/2010 - ode à Manuel Bandeira)

Dulces

Se o hoje fosse ontem
não teria tanta força

vastos são os sentimentos
do momento
agora

duros são os pesares
do passado
ontem

doces são as palavras
pensadas
antes

amarga é o poder
da raiva
no ato

dulces, eu prefiro os dulces.

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

sábado, janeiro 30, 2010

Uma nova postagem...

em branco.

cor do véu e grinalda
cor do infinito
do divino

a veste das santidades mais castas

do esquecimento
do recomeçar
a cor da paz
a busca interior

limpeza
alinho

o branco

da pele rara
a raça caucásica
encanecido

pureza
asseio
o sangue do verde

do escudo do time amado
das paredes assépticas
o bilhar

a clara de ovo cozida
o leite derramado
a neve

a cor do descorado
pálido
a mistura de todas as cores

da assinatura que se confia
da resposta que não se sabe

o branco

espaço a mais
o não ordinário

as estrelas
a lua
as luas

o negativo

o positivo

A inspiração.


(Gardênia Vargas - 29 de jan/2010)

terça-feira, janeiro 19, 2010

INDEPENTENTEMENTE CONFUSA E SUPER SEGURA EM: A FESTA

A independentemente Confusa ouviu uma conversa das amigas animadas para uma tal festinha esperta, num tal lugar descolado da zona sul carioca. Tão logo ouviu, se convidou. Chegou o dia esperado e ela sem pestanejar ligou pra amiga Super Segura:


- E aí amiga, vamos nessa? – Já está na hora marcada e a Independentemente Confusa está quase pronta.

- Claro, já estou me arrumando – Responde a Super Segura com voz de quem vai demorar.


E lá chegaram, junto com a trupe de amigas, todas lindas, produzidas e com calor! Uma delas dá a idéia, e logo, todas seguem: começa o festival de caipirinhas.


- Ah, amiga vou lá pegar mais umaaaaaa! – Em pouco menos de dez minutos, lá vai a Independentemente Confusa rumo ao bar.


De volta à pista de dança. Minutos mais tarde...


- Amigaaaaaaaa, mais uma – Vai decidida, a Independentemente Confusa.

- Olha lá, amigaaa, presta atenção! – Precaveu a Super Segura.

- Ih, amiga, to bem. Tranquila, ó – Abre os braços com um imenso sorriso no rosto à Super Segura.

- Tá, mas dessa vez deixa que eu peço – Intervém.


Porém, a Super Segura pede caipivodka. Não se toca que a amiga, já bem alegrinha, estava tomando caipirinha, com cachaça!


- Moço, isso aqui tá muito fraco! Assim num dá, pagamos uma baba por esse suquinho?! – Interpela, a Independentemente Confusa, debruçada na bandaca do bar.


E o barman prontamente atende ao pedido da moça bonita e Independentemente Confusa. A vodka transborda do copo e escorre pelos dedos. A Independentemente Confusa não perde tempo. Entorna. De repente, um amigo dos amigos segura ela pela cintura e... já era!

Depois de muito dançar, a Independentemente Confusa, se esquiva num corrimão e de lá não saí nem por um decreto. Alí, a Super Segura observa de longe. A Independentemente Confusa respira fundo, agradece a coca-cola, que o rapaz educado trouxa para ela, bebe uns goles, mas percebe que está na hora de ir. Vira pro lado, gruda no braço da amiga Super Segura, que correu pra perto para "estar por perto para qualquer emergência":


- Queridona, preciso que você me coloque num taxi A-GO-RA!


Olha pra frente, pro amigo dos amigos, que está ali, “cuidando” dela e diz:


- Desculpe, mas preciso ir embora A-GO-RA!


A Super Segura escora a amiga escada abaixo. Ela mesma, a Independente Confusa, pediu um taxi, soletrando o nome da rua e o número da casa beeeeeeeeeeem devagar...


No dia seguinte, a Independentemente Confusa acorda às 15h30, na cama, com os sapatos, a bolsa atravessada, a mesma roupa, maquiagem, a cabeça pesando uma tonelada e um celular a mais... Hein? Um celular diferente! Com quatro chamadas não atendidas, cinco mensagens, todas elas endereçadas... a ela!


Ela está ainda mais confusa. Outro celular toca, desta vez é o dela. Atende com voz de Leda Nagle:


- Oi amiga... o que houve ontem? Tô morta de vergonha! – Joga uma enxurrada de perguntas à amiga Super Segura, que já tinha acordado e feito seu almocinho vegetariano.

- Que isso amiga, você tava amarradona ontem dançado. Fica na paz. Tá tudo bem – A Super Segura tenta acalmar a amiga.

- Amiga, como está tudo bem? Só me lembro de estar dançando e... meu Deus! Fiquei com o irmão da Geraldine, aquele que ela MORRE de ciúmes... é isso? Esse celular é dele!

- Não garota! Tá maluca?! – diz incisiva a Super Segura.

- Ué? Então foi com aquele outro que ficou querendo cheirar meu cangote, o EX DA EMANULE... Ela vai me matar! – Grita em desespero a Independentemente Confusa.

- Poooooooorra! Garota, não... Você ficou com o amigo dos amigos, aquele que gente boa – Explica indignada a Super Segura.

- Ah é?! Ufa, que bom... Lembrei. Olha vou na rua. Tô enjoada. Preciso fazer alguma coisa.


Na rua, a Independentemente Confusa entra numa farmácia.


- Olá, bom dia!

- Boa noite, querida, boa noite – Mau humorado, o atendente range entre os dentes.

- Ah, sim, desculpe, boa noite. Bom, queria uma ajuda sua... Bom, meu irmão está
enjoado, sabe? Ele, bom, ELE bebeu muito ontem, misturou, essas coisas, entende? – Tenta mentir, bem sem graça, a Independentemente Confusa.


Sai da farmácia com dois vidrinhos de Epocler. Toma um em jejum, pra lascar. Respira e volta pra casa. Pega o telefone:


- Amiga, a festa, tava boa?

- Hahahahaha! Meu-Deus! Sim, estava. Você que o diga – Ironiza a Super Segura.

- Ah, sim... Bom, deixei o celular do menino na portaria. Ele ligou de novo e eu disse que tive que sair com meu irmão e deixei na portaria – explica, meio confusa, a independentemente Confusa.

- Mas irmão? Você não tem irmão! – Se espanta a Super Segura.

- Bom, tudo resolvido. Agora vamos a minha mais nova decisão de ano novo: NÃO BEBO NUNCA MAIS!

- Sei, sei...


Desligam o telefone. A Super Segura comenta baixinho para ela mesma antes de dormir:


- Essa minha amiga, essa minha, amiga. É uma fi-gu-ra-ça! - e dorme sorrindo.




***

sábado, janeiro 09, 2010

O HOJE

Depois de tanto
mais um pouco

silêncio

e a busca
pelo que não sei
ainda

paciência

e o caminho
das pedras
perdidas
no espaço

tempo

pra frente
olhando atrás
e vendo

equilíbrio

e a corda
bamba
os rastros
dos ratos

salvação

a imagem
da lua
crescente
crescendo

universo

cheio
pleno
e as fases
ah, as frases...

(Gardênia Vargas - 09 de jan de 2010)