sábado, maio 22, 2010

INDEPENDENTEMENTE CONFUSA E A SUPER SEGURA EM: A EMERGÊNCIA DO MUSO

As duas amigas estão comendo em um japonês da Zona Sul. De repente a Super Segura começa a passar mal. A Independentemente Confusa não sabe ao certo o que fazer, pois, raras foram as vezes que viu a amiga reclamando de dor.

A Super Segura sai às pressas, entra numa farmácia, compra um remédio para úlcera - que ela toma desde seus 15 anos -, e volta para o restaurante. Uma hora depois ela não melhorou e as duas decidem correr para a emergência de um hospital.

As duas entram na sala de espera de uma clínica na Gávea e dão de cara com um dos maiores musos do Brasil sentadinho, sozinho. Elas se entreolharam em cumplicidade. A Super Segura estava pálida, com as mãos no estômago. Isso até preocupou a Independentemente Confusa, que, de certo modo, ficou culpada por ficar “empolgada” de estar ali, NAQUELE momento.

Sentaram. Um silêncio sepulcral e de repente a Independentemente Confusa repara o rapaz, no banco oposto, balançando os braços para cima, para o lado, para baixo, com o olhar fixo no Iphone. Estava jogando um joguinho desses animados que distraem qualquer um. Ele olha pra cima:

- Oi, é que estou esperando há um tempão e não tinha o que fazer, né, daí to aqui... jogando - Comenta, muito sem graça, o muso, depois de perceber o olhar de curiosidade da Independentemente Confusa.

- Ah, não se preocupe. Estava só lembrando que hoje à tarde eu estava brincado com um joguinho também – Responde rápido, a Independentemente Confusa.

- Ah, sim, é bem divertido. Distrai. Ficar aqui esperando horas requer um pouco mais do que só paciência, né? - O muso continua o papo.

- Sim, sim. É verdade. É bom que faz passar o tempo sem sentir – Sorri, a Independentemente Confusa.

- Mas as pessoas olham e não entendem nada, assim como você... – Comenta, com os olhos arregalados, o muso.

- Eu entendi, sim. É que a gente fica parecendo retardado levantando o braço, seguindo com os olhos um aparelhinho, né? – Completa, a Independentemente Confusa.

- Ah, retardo, né? Sim. Era assim que estava me vendo – Indaga entre risos, o moço.

- Hahahaaha! Imagina, só visualizei a cena de hoje, eu com um quadrado levantando e descendo, pra um lado e para o outro. As pessoas passavam olhando, olhando... – Tenta amenizar o comentário anterior, a Independentemente Confusa.

O atendente da clínica grita o nome da Super Segura. A Independentemente Confusa pede licença ao rapaz muso e acompanha a amiga. Em um dos boxs de atendimento, enquanto a médica faz perguntas à Super Segura, a Independentemente Confusa ouve os médicos comentando um caso grave. “Dor no peito... Acho que teremos que internar hoje mesmo. Onde está o paciente? Ah, sim, na espera”. “Pronto, é o muso!”, pensa imediatamente a Independentemente Confusa. Não tinha mais ninguém na espera, tinha de ser ele.

Ela corre para sala de espera e vê o muso ao telefone e ouve “Tô aqui na emergência esperando os resultados os exames. Pois é, eles quiseram fazer imediatamente”. Ela aperta a blusa na altura do coração e já imagina um fim trágico para o rapaz. Volta para ver a amiga Super Segura, mas ela está bem, tomando remédio na veia e conversando com o enfermeiro. Corre para fora novamente e começa a querer distrair o muso:

- E aí, rapaz, o que te traz aqui?

- Saúde... A idade... – Responde evasivo, o muso.

- Ah, sim. A saúde... – Retruca na mesma linha, a Independentemente Confusa.

De repente a Segura Segura surge na porta de saída. Já está bem. Ela para e pede uma água. A Independentemente Confusa conta o que está acontecendo à amiga. Elas vêem uma unidade móvel de dor torácica entrar no pátio da clínica e já imaginam que irão levar o muso. Elas voltam à sala de espera para tentar descobrir a verdade:

- Olha só, sua amiga já melhorou. Está tudo bem? - Pergunta, o muso.

- Pois é, não era nada demais, só uma crise de gastrite – Responde a Super Segura.

- Hum, bom, então daqui a pouco passa. O duro é a gente sempre achar que está cheio de saúde e de repente começa a sentir alguma coisa estranha – Comenta, o muso.

- É, nada agradável essa situação – Comenta a Super Segura.

- Mas nada é por acaso, conheci vocês duas, uma simpatia só – Afirma com um sorriso largo, o muso.

- Ah, imagina, obrigada – Respondem, as duas amigas, fazendo dengo para o muso.

- Então, o que vão fazer depois daqui? – Pergunta o muso.

- Acho que vamos pra casa mesmo – Responde a Super Segura – Ainda que não pareça, não estou muito bem – sorri.

- Ah, que pena, não topam um papo no temaki, aqui em baixo, pra relaxar? – Convida, o muso.

E o nome do muso é chamado em alto e bom som. Ele corre sem esperar respostas ao convite. Olha pra trás e faz sinal para elas o esperarem. As duas se entreolham e rapidamente já se preparam para consolá-lo. É uma pena, elas têm certeza que ele sairá de lá direto para a unidade móvel. Entreolham-se com sentimento de pena. Mas logo a Independentemente Confusa vê a oportunidade de ficarem amigas do muso, se aproximarem. Já estavam sentindo que ele iria precisar muito delas naquele momento, sozinho, numa emergência de hospital. Elas começam a arrumar uma a outra, passam batom, ajeitam o cabelo fora do lugar. Ouvem os médicos se prepararem para a retirada do paciente e ficam de pé, prontas para o muso cair em seus braços.

De repente vêem um farol forte, olham para trás, pelo vidro da recepção, e uma pick-up está parada com motor ligado na porta da clínica. O muso sai apressado, com papeis em uma das mãos e o Iphone na outra. Faz sinal para o carro. O vidro do carro desce, uma musa o espera. Abre a porta do carona e o muso entra. Ele vê as duas amigas, arrumadíssimas na recepção. “Grita baixo” um “muito obrigada pela companhia”, as duas acenam através do vidro. Olham para frente e uma moça, de uns 65 anos é levada de maca para dentro da unidade móvel para dor torácica. Entreolham-se e:

- Porque fui cair nas suas baboseiras imaginárias outra vez... – Lamenta, a Super Segura, levando a mão ao estômago novamente.

- Mas amiga... Eu achei que... – Tenta falar, a Independentemente Confusa.

- Vamos amiga, vamos! – Corta a conversa, a Super Segura.

As duas vão andando em direção ao carro. A Super Segura balança a cabeça baixa negativamente, enquanto a Independentemente Confusa não para de tenta explicar. Entram no carro com sentimento de frustração passageira e vão embora, a Super Segura em silêncio na direção e a Independentemente Confusa, sem parar de falar, no carona.

2 comentários:

Pedro Roitman disse...

"A ilusão é uma fé desmedida." - Balzac

"A ilusão é o primeiro de todos os prazeres" - Oscar Wilde


Muito bom o texto !@!!!!

Vivi Drumond disse...

Hahahahah.... Muito bom Garden... Imaginei toda a cena.....Bjs