terça-feira, maio 01, 2012

O menino do violino



Mais um dia ela corre afoita. Quase perde o das 9h35. Chega, se arruma no banco, põe as bolsas e casaco de lado para poder achar o pente , o espelho e o batom. Se arruma depressa e agradece o pequeno trânsito causado pela chuva fina. Deu tempo. Ela está pronta.

A condução para e lá está ele, o menino do violino. Entra meio desajeitado, arruma o cabelo molhado, sacode a capa do instrumento e paga para passar da roleta. Eis o grande instante. Ele passa por ela, olha pra frente, procura um acento vazio.

Lisbela contempla o momento e reconhece o ar agitado. Ela não olha mais pra trás. A viagem é regida pelos desenhos do vento entre seus dedos. Mãos na altura do lábios. Seus olhos que fitam o nada, sempre de lado. Ela quer que ele a veja em seu melhor ângulo. Jura que é observada e que ele corre para encontrá-la todos os dias.

Seguem assim os minutos. De repente, a hora de saltar. Arruma o cachecol, afofa a bolsa para não parecer cheia demais, coloca os óculos escuros e levanta. Olha em volta para procurar o violino. Não acha. Ele já desceu.

Ela segue pelas ruas torcendo para o dia passar... Amanhã ela o verá novamente.

(Gardênia Vargas 04/06/2008)

Vento de chuva

    Doloridas pancadas de água
  Apaguem esse sorriso estampado
Molhem o corpo febril


 Poças de lama sujem essas pernas
Manchem as roupas
   Estraguem os fios


Batam nela deitada no chão
   Atropelem sua excitação
 Encham de gotas a nuca, os pés e as mãos


Deixem-na gemer retorcida na rua
 Agarrada no dorso
Toda nua


     Façam-na lamber o asfalto
Recostar no meio-fio
 E morder a palma de sua mão.

quinta-feira, abril 19, 2012

INDEPENDENTEMENTE CONFUSA E A SUPER SEGURA EM: UMA FRUSTRAÇÃO

À tarde a Super Segura caminha pelas ruas do Leblon. Pediu para sair mais cedo do trabalho. Estava com enxaqueca. Foi ver vitrines de lojas, nada que pudesse comprar naquela hora. Só olhar. Pegou o celular e discou:


SS - Amiga! Achei o cara no facebook!

IC – E aí?!

SS – É casado!

IC – Filho da puta!


Um silêncio rápido e voltam a falar.


IC – Mas e aí? Viu a foto da mulher dele? – Pergunta curiosa a Independentemente Confusa.

SS- Vi.

IC – Hum... É aberto o face dele... Dava pra ler as coisas? – Insiste.

SS – Amiga, dava pra ver tudo. Tudo. Filhos, família, mulher, cachorro, periquito e papagaio. A porra toda. Incrivelmente bem casado. Linda família margarina feliz. - dispara - E sabe de mais uma coisa, a mulher dele parece incrível! Merda. – Resignada, respira profundamente a Super Segura.

IC – Ah, amiga, você já desconfiava. Agora tem certeza. – Tentando ser otimista – Pô, melhor assim. Dá pra entender o sumiço repentino.

SS – É. Isso é verdade. Eu achava isso. To Tranquila. Mas pô, podia não ser. Ai! Vai ter dedo podre assim lá longe! – sentencia.

IC – Ah, para. Nem é assim. Uma hora você encontra alguém que encaixe. Uma hora alguém que estiver no mesmo ritmo que você aparece... – Embala a dar conselhos, a Independentemente Confusa.

SS – Oi? Tá doida?! Amigaaaa, aloooou! Não quero casar e ter filhos com ele. Não pensei nisso. Não pira, não. – Corta com sinceridade - Ah, de uma certa forma é até bom isso. Pelo menos sei que não sumiu por que sou chata ou boba.


Nesse momento a Super Segura continua falando, entra numa loja com o celular no ombro e ouvido, pede dois. Paga e sai calada, escutando.


IC – Então, amiga. Pelo menos a gente sabe que ele não tá com medo de você ou coisa parecida. Até eu fiquei aliviada. Mas... Já que pé assim, por que você tá assim, tão chocada?

SS – Ah, sei lá. Não entendo homem que faz essas coisas. Aliás, entendo. Mas, na boa, não precisa. Era só abrir o jogo que eu ia entender e me resguardar, mas não ia deixar de ficar... - amacia, a Super Segura.

IC – Entendo. Tá vendo amiga. Você queria, sim, um romancezinho, vai....

SS – Queria um envolvimento que não fosse tão fugaz! Só isso. – Fala segura, a Super segura a miar – Que bobeira. O cara é casado. Eu não tava esperando nada. Só fiquei frustrada por que ele sumiu e não me disse nada. Descobri. Isso foi ruim. Não precisava, né? Mas enfim, acabou. Agora desce aí que estou na sua porta com dois Youboberrys na mão te esperando pra gente ir ao cinema!

IC – Oba! Que ótimo! Chegou rápido. Vou descer.


A Independentemente Confusa sai correndo. Encontra a amiga na porta do prédio. As duas se abraçam. Não se viam há alguns dias. Vão correndo ver qual filme está em cartaz.


IC – Amiga, esse cara não foi legal. Ok. – A Independentemente Confusa abraça a Super Segura e fala ao pé do ouvido - Ele podia ter sido sincero que sei que não deixaria de viver os momentos vividos. Mas pense numa coisa. Ô cara sortudo da porra! Esses dias com você serão inesquecíveis!

SS – Ah, amiguxa! Isso você tem razão. Do angu ele só provou a beiradinha e tenho certeza, lambeu os beiços! - sorriu suave.


Entram no cinema mais próximo para ver “Titanic 3D - legendado”.

quinta-feira, agosto 04, 2011

INDEPENDENTEMENTE CONFUSA E SUPER SEGURA EM: O Passeio na Serra

Certo dia, a Independentemente Confusa decidiu que ia viajar pra espairecer. O gatinho da vez estava a fim de um fim de semana especial, e ela, que estava na estafa do trabalho, aceitou. Claro que antes encontrou a Super Segura para ter certeza de que essa seria uma boa ideia. Em um café, no fim do dia, as duas trocaram confidências:


IC: Então amiga, o que você acha? O Rodrigo quer muito sair um pouco daqui - Indagou, a Independentemente Confusa.

SS: Ué? Vai! Qual o drama da vez? - Desafiou, a Super Segura

IC: Não fala assim. Sabe que minha relação com ele é só de ficar de vez em quando, que tenho medo de me envolver e me ferrar mais um vez... - Explicou.

SS: Amiga, para com isso. Ele é bacana. Te curte de montão. Quer só ficar um pouco longe dessa doideira que é o Rio de Janeiro - Condescendente.

IC: Eu sei, eu sei... Mas sei lá, algo me diz que não é uma boa.

SS: Bom, então siga seus instintos e perca uma viagem romântica - aconselhou a amiga.

IC: Não, também não é pra tanto. Pode ser que seja um medo bobo de me envolver com mais uma cara errado, né?

SS: E se for? Mais um, menos um...

IC: É, você tá certo. O que pode dar errado em dois dias no mato com um cara lindo e gostoso, né?

SS: Ah, garota, assim que se fala! Vai nessa. Arruma a mochilinha e parte pro amor! Nem que seja por dois dias!! Eu estarei aqui. Me liga se precisar! - Encorajou a amiga.

IC: Ah, o que seria de mim sem você!

A Independentemente Confusa levanta e dá um beijo na amiga. Deixa uns trocados e vai embora saltitante.

SS: Espero que dê tudo certo mesmo - fala para si mesma.


Fecha na titubeada da Super Segura.


No dia seguinte, a Independentemente Confusa já fez a mala e levou direto para a labutao. Às 18h o garotão maroto buscou-a na porta do trabalho. Foram ouvindo o CD do Otto nas alturas. Pararam no meio da estrada para uns amassos pontuais. Seguiram para a tal casa que um amigo dele emprestou pelo fim de semana. Subiram a Serra cantando ao som de Céu. Entraram na estrada esburacada. Cada salto do carro era uma gargalhada. Chegaram na casa.


IC: Que gracinha de lugar! – Exclamou, a Independentemente Confusa com sorriso no rosto.

RODRIGO: Gostou, gata?! Tudo pra você – disse com voz e jeito de galã de novela mexicana.

IC: Adorei, gato! Maravilha! – deu um pulinho e abraçou o galã.


Alguns minutos depois, as malas já estavam abertas no chão. E os dois se amaram como se não houvesse amanhã. No fim da noite, os dois viram “Kika”, um filme de Almodóvar, que ela ama e ele trouxe para agradar sua amada. O clima era perfeito. A noite foi fria e os dois dormiram de conchinha. Quando ele pegou no sono, a Independentemente Confusa pegou o celular e mandou uma mensagem para Super Segura:


“Amiga, está tudo na mais perfeita harmonia. Não poderia ter tomado melhor decisão. Obrigada”.

E apagou.


No dia seguinte, conheceram o Zé, caseiro do palacete, no meio do mato. Muito simpático e agradável Seu Zé tomou a liberdade de dar uma ideia ao casal embebido de paixão.


SEU ZÉ: Olha, o almoço tá ficano pronto. Aqui perto tem uma casa que tem uma menina lá que tá suzinha e que pediu ajuda pra comprá uns mantimentu pra armoçá. Qu'ces acham de chamá a moça pra cumê cum nós?

Na hora a Independentemente Confusa estava efusiva e não pensou duas vezes:

IC: Claro, Seu Zé! Tem comida pra uma família comer junto. Chama a moça!

Dali há uma meia hora chegou Michele, uma moça bonita, de outro estado, que ali estava passando um fim de semana pra descansar:


MICHELE: Pois é, estou muito cansada da cidade. Minha mãe tem essa casa de veraneio e às vezes venho passar alguns dias para pensar - contou.

IC: Que bom ter um lugar assim. Nós viemos com o mesmo objetivo. Respirar novos ares. Mergulhar no rio. Ver o verde - sorridente.

MICHELE: É importante ter esses momentos. Ainda mais em casal. Vocês namoram há muito tempo?

IC: Não, não namoramos. Estamos nos conhecendo – E se afasta para pegar mais um copo de vodka com suco de laranja.

RODRIGO: E você, o que faz uma menina tão linda sozinha por aqui? Não tem namorado? - soltou o menino com voz de galã.

MICHELE: Não. Estou numa fase de autoconhecimento, sabe? Estou querendo me descobrir – E termina mais um copo de vodka com suco de laranja.

RODRIGO: Deixa eu pegar mais pra você – Pega o copo das mãos de Michele, e encosta nos dedos dela, deixando deslizar um pouco. Ela olha com susto, mas o sorriso dele é conquistador e a menina devolve o mesmo sorriso com os lábios apertados.

Mais afastados, preparando a segunda garrafa de vodka com suco de laranja, Independentemente Confusa e Rodrigo trocam algumas palavras:

IC: Ela é legal, né?

RODRIGO: Muito.

IC: Que bom que Seu Zé teve essa ideia. A princípio achei estranho, mas se ela está sozinha pode ser boa companhia.

RODRIGO: É.

IC: Tá bom de Vodka?

RODRIGO: Põe mais.


Os dois voltam à conversa.

IC: Nossa, nem comemos direito. Sobrou tudo! – E cai na gargalhada. Todos riem, se abraçando – Cadê o Seu Zé?

MICHELE: Acho que ele desceu pra comprar mais bebida.

IC: Mais? Já acabamos com três garrafas! – E caem na gargalhada novamente.

(...)

MICHELE: E aí, ele me pegou e me levou pra casa – E caem na gargalhada.

corta com uma ideia, a Independentemente Confusa: Vou descer atrás do Seu Zé pra pegar mais bebida!

E sai pela estrada afora atrás de Seu Zé. Encontra o caseiro chegando com os mantimentos em sacolas. Abraça o Seu Zé, pega uma das sacolas e vai conversando amenidades com o novo melhor amigo na subida até a casa. Chega à cozinha e começa a guardar as coisas, tropeça e ri. Seu Zé acha tudo muito engraçado e se aproveita da condolência da moça da cidade grande.

A Independentemente Confusa vai ao banheiro e quase cai. Mas volta às gargalhadas, mais contidas quando vê Seu Zé. Ao chegar na porta da varanda, dá de cara com uma cena inesperada. Rodrigo se atracando com Michele. São beijos quentes e mãos bobas por tudo quanto é lugar do corpo dos dois. O frio lhe sobe a espinha dorsal. Por um segundo esfrega os olhos e não acredita no que vê.. No segundo posterior sai de encontro ao novíssimo casal já gritando:


IC: É isso mesmo? É isso mesmo que eu to vendo?

RODRIGO: Gata! Vem aqui! – Entre os beijos puxa a IC às gargalhadas com Michele. Ela fica assoberbada. Não tem reação. Se livra das mãos do cara e vai direto pra dentro da casa. Sai de novo e eles continuam se pegando no maior amasso dos últimos tempos. Ela olha em volta e o que vê é o notebook de Rodrigo, conectado a caixas de som às alturas tocando Led Zeppelin. Ela pega as caixas e sai com tudo. Joga o equipamento na piscina.


IC: Seu verme filho da p...! Tá pensando o que da sua vida, seu M... Que P... É essa? Sai dessa casa sua Piiiiiii!


Os dois se entreolham e percebem que a coisa é séria! A Independentemente Confusa está irada. Volta pra dentro da casa e pega uma faca. Seu Zé vê toda a cena atônito, mas corre atrás da Independentemente Confusa e a segura, prevendo uma tragédia. Ela chora e berra. Michele se recompõe e sai em debandada. Rodrigo pula na piscina pra tentar salvar seu Mac. Seu Zé não sabe o que fazer e carrega a Independentemente Confusa pra casa dele, nos fundos da casa principal. Ela chora até ser derrubada pelo sono.

No dia seguinte ela acorda com 15 mamutes siberianos dançando em sua cabeça. Abre os olhos inchados e não sabe onde está. Procura alguma coisa comum aos seus sentidos e enxerga Seu Zé fazendo café.


SEU ZÉ: Ô moça! A noite foi agitada. Toma esse café pra melhorar essa cara - Ele lhe entrega uma caneca.

IC: Ah... É... obrigada. Mas onde estou? - Se recompondo.

SEU ZÉ: Está na minha casa. Achei mio te trazê pra cá antes que fizesse uma besteira - Olha com carinho paterno pra moça tentando se recompor.


Os dois conversaram baixinho pra cabeça da Independentemente Confusa não estourar. Ela foi se lembrando de tudo e foi tomada por uma vergonha infinita. Logo ela, uma mulher moderna e independente passar por isso... Não entrava na cabeça dela. Ela foi até a casa principal e encontrou Rodrigo deitado no sofá, chorando baixinho. O Mac Book pro dele no chão, junto com as caixas de som, encharcados. Ela se sentou na ponta do sofá e os dois não falaram nada por no mínimo 40 minutos. Depois disso ela levantou e lhe trouxe um chá. Ele tomou com os olhos tão inchados quanto os dela.


RODRIGO: Me desculpa, gata. Me desculpa.

IC: Não, não desculpo. Nunca vou entender o que passou na cabeça pra fazer isso comigo.

RODRIGO: Eu não queria te magoar. Só achei que... Nós... Não sei. Você é sempre tão pra frente, tão independente, tão mulher contemporânea.... Que achei...

IC: Não acredito! Você achou que eu poderia transar com vocês dois? É isso?

Rodrigo emudeceu.

IC: Putaquilpariu! Mas você é muito burro! Muito! - batendo com uma das mãos na perna.

RODRIGO: Pois é... Não imaginei que você fosse tão... tão... quadrada.

IC: Quadrada!!! Rodrigo, você realmente... Fez tudo errado. Me perdeu pra sempre. E ainda perdeu uma boa oportunidade - e sai pra cozinha.

Ele vai atrás.

RODRIGO: Como assim?

IC: Se você falasse comigo, me desses indícios, me falasse ao pé do ouvido...

RODRIGO: Você está dizendo que...

IC: Que você fez tu-do errado! Quem sabe, se chegasse com jeito, me seduzisse primeiro. Como você pôde achar que eu ia chegar e ver meu gato se pegando com outra e ficar com tesão?

RODRIGO: Achei que vocês estavam tão enturmadas...

IC: Cala a boca! Da próxima vez você deixa as mulheres se descobrirem primeiro, se for esse mesmo o caso. Mas dessa vez, faz o seguinte. Junta sua coisa e vaza daqui!

RODRIGO: Como assim?

IC: Assim gato! Pega e vaza!

RODRIGO: Mas a casa é do meu amigo...

IC: Problema seu e do seu amigo. Vai embora sem olhar pra trás. Tira meu telefone do seu celular e carrega esse equipamento molhado daqui.


Quando Rodrigo olhou para porta viu Seu Zé com cara de poucos amigos. Não teve saída. Juntou os trapos e se mandou em menos de 15 minutos. Depois que ele foi a Independentemente Confusa ligou para a Super Segura.


CORTA


IC: ... Mas homem é muito burro mesmo... Fiquei enfurecida, amiga!!!! Quase acabou com meu dia. - silêncio - Ué? Então ele saiu daqui com o rabinho entre as pernas... – e sorriu ainda se recuperando do nervosismo, mas já muito leve.


No fundo Seu Zé enche mais um copo de vodka com suco de laranja e leva para Independentemente Confusa que sorri cúmplice e desliga o celular. Os dois brindam o final da tarde de domingo ao som de Amy Winehouse. Michele aponta na porta da cozinha, ainda muito sem graça, mas a Independentemente Segura manda ela entrar e serve um copo para ela também brindar. As duas sorriem se entreolham e miram em direção ao Seu Zé.

CORTA.

sábado, fevereiro 19, 2011

Um dia inteiro

Se um dia me engolisse por inteiro
não sobraria um fio de cabelo
Ele cuspiria suor

Gardênia Vargas (19/02/11)

domingo, dezembro 19, 2010

Ilusões

Uma dia ela acordou no susto,
estava voando

Era um pássaro
dos grandes
bateu as asas cor de ouro
e se foi

Olhou para os lados e se viu na janela
do quarto
ainda escuro

Mirou o infinito
e se jogou

Acordou no susto
se machucou

Por que ela era
na verdade
uma flor

sexta-feira, dezembro 03, 2010

INDEPENDENTEMENTE CONFUSA E A SUPER SEGURA EM: UM CARINHA DA INTERNET

Um dia a Independentemente Confusa olhou no relógio e viu que estava atrasada. Pulou da cama, olhou para os lados, pegou o lençol, se cobriu e foi até o banheiro com medo de encontrar mais alguém no seu apê vazio. Tomou um banho demorado e saiu enrolada na toalha. Entrou em seu quarto enxuta, passou seu hidratante cheiroso no corpo todo, se vestiu, pegou a bolsa já arrumada do dia anterior, olhou para cima da mesa e viu seu copo de whisky aguado e lembrou da noite online, seu date cibernético. Levou a mão à cabeça e sorriu sozinha só com o canto dos lábios.

Chegou ao trabalho e entrou online. Ele não estava. De repente pula a janela da amiga Super Segura, que já estava de pé fazia algumas horas, trabalhando de casa.

SUPER SEGURA - E aí amiga? Como foi ontem?

INDEPENDENTEMENTE CONFUSA - Oi! Foi louco. Ele estava especialmente inspirado.

SS - Mas vocês ficaram conversando on line?

IC - Exatamente assim como estamos agora.

SS - Hummmmmm

IC - Não gosto de câmera, você sabe.

SS - Mas e aí??? Ele vem?

IC - Como vem? Vem pra onde?

SS - Ué? Vem te ver!

IC - Amiga, ele está no Rio.

SS - ?????

IC - É...

SS - Não entendi na-da.

IC - Pô, ele está aqui há uns três dias.

SS - E aíiiiiiiiiiiiiiiiiiiii?

IC - Não sei, a gente marca de se ver e na hora acha melhor ficar na internet. Acho que tenho medo do encanto se quebrar. Da fantasia virar realidade. Dele não ser tudo que espero.

SS - É, você corre esse risco. Ele também. Mas não faz o menor sentido ele vir pra cá só pra te ver e você não se encontrarem, concorda?

IC - Sim, sim...


Tempo.


IC - Amiga, preciso ficar offline. Minha chefe chegou e tenho um monte de coisas para fazer.

SS - Ok, ok. Té já. Bju

IC - Bjoca


A Super Segura fecha a janela da conversa, maneia a cabeça e volta a trabalhar. Do outro lado a Independentemente Confusa, minimiza a conversa e a janela do email, respira e levanta para pegar um copo d’água. Quando volta tem uma janela piscando. É ele:


ELE – Oi bonita.


Ela olha com a atenção de quem está lendo um parágrafo de um texto intenso. Segura o coração que pula desesperadamente. Fecha a janela e o email. Começa a trabalhar. Não consegue. Não tem concentração. Ela fica online novamente. Ele não fala. Ela então puxa a conversa:


IC – Oi.

ELE – Como está? Sobreviveu?

IC – Sim. Rs! Um pouco cansada. Mas está tudo bem.

ELE – Que bom. Fica na paz, viu?


Tempo


IC – Ok.Obrigada.

ELE – beijo e se cuida.


A Independentemente Confusa deixa a janela aberta da conversa e segura o choro. A angústia chega a invadir o corpo todo. Se sente fraca, quer sair de onde está, quer voar até sumir no infinito e chegar a outro lugar, ou até mesmo voltar no tempo. Não seria mal voltar no tempo. Dia perdido. Ela não conseguiu fazer nada no trabalho. O telefone toca, ela treme, mas é a amiga Super Segura:


SS - Oi Amiga? Tá tudo bem? Você ficou ausente o dia todo, não respondeu mais no GTalk nem no Facebook - pergunta.

IC - É amiga, muito trabalho... – responde desanimada.

SS – Sei... E o carinha?

IC – ah, sei lá - Tenta disfarçar.

SS – Não vão se ver mesmo? – Desconfia.

IC – Ele foi embora hoje à tarde - Conformada.

SS – Como assim, neguinha?!! Tá doida!! E não se viram? – Inconformada.

IC – é amiga, acho que não rolou...

SS – Cara, o que houve?!!!

IC – Ele ontem veio com esse papo que está confuso, que não sabe direito o que quer, que gosta muito de mim, mas que não quer me magoar. Acho que ficou com medo de me ver. Legal né?- Irônica.

SS – Afffe! Mais um desse tipo. Babaca! – Desacreditada.

IC - ...

SS – Ah cara, covarde ducaralhou! Ficou com medinha, é? Melhor ficar mesmo! Você é
muito mulher pra um merdinha desses.

IC – Pô, amiga, muito obrigada, mas acho que gostaria de ouvir outra coisa - Risos! – Desarma.

SS – Hahahahaha! Desculpa, mas é que esses homens contemporâneos estão me saindo bem piores do que as mulheres. Isso me dá uma certa indigestão – Sincera.

IC – amiga, já estou na porta da sua casa.

SS – Então sobe aí. Vamos tomar um saquê com lichia! – Convida animada.

IC – Ah, o que seria da minha vida sem você! - Sorri sem som.

SS – Ih, menina, então, você não sabe quem me ligou hoje?! – Muda o tom.

IC – Quem? O Roberto?! – Se interessa.

SS – Exatamente!


E a Independentemente Confusa entra no prédio com a amiga ao telefone. A conversa vai ficando longe. Vão se divertir e chorar algumas mágoas. Mas a noite será ótima! Bem melhor do que com “Ele”, acredite. Risos.

sábado, setembro 25, 2010

Coração machucado

Meu coração machucado quando encontrou seu coração machucado, expirou ressabiado

O seu coração machucado não tinha curado, e assim como o meu coração machucado teve pressa de chegar

Atropelos em busca de curas só resultam em gaze e esparadrapos a mais para estancar

Os corações machucados se abraçam, querem ao menos respirar
As cicatrizes são até bonitas e guardam histórias, tudo pra recomeçar

Porém, o recomeço precisa primeiro terminar

Ou depois, o seu coração machucado acha o pouso desconfortável, pois o meu coração machucado não tem mais band aids pra lhe dar.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Aos amigos, uma breve ode!

Uma breve postagem sobre os amigos. Eles merecem.

Aos bons amigos, aos sinceros, aos que nos amam de verdade, aos que torcem por nós e lá no íntimo dividem todas as emoções.

Esses sim são os verdadeiros guerreiros que estão ao nosso lado sempre que precisamos, solicitamos ou simplesmente piscamos os olhos.

Queria deixar aqui todo meu louvor a esses grandes amigos que me acompanham e verdadeiramente estão ao meu lado. Sempre.

Muito amor, muito, muito.

sexta-feira, julho 23, 2010

Um pouco e só

Parei de te ver como luz
Parei de sentir como dó
Parei de esperar como bus
Parei de chorar como pluie

Agora andei, caminhei
Marquei e segui
Ensaiei sem olhar
Ceguei
O dia podia me lembrar

Guardei, juntei
Tá lá.

Tudo amassado, amuado
Um dia eu abro
Carrego e jogo no espaço

Preto no branco
sem embaraço.

quarta-feira, julho 14, 2010

A mulher do Saci

Compartilhando a frase do dia:
"Feliz mesmo é a mulher do Saci, pois sabe que se levar um pé na bunda, quem cai é ele" - assinado, Mestre dos Magos (facebook)

Genial!

terça-feira, julho 13, 2010

O presente

Um misto de emoções se funde no exato momento que recebe um presente pelo qual esperava demais, mas muito mesmo, há muito anos. Não há de se pagar todo esse tempo de espera. Ele construiu a história e a vitória. Não sei bem se é a tal felicidade ou a conquista, ou as duas juntas. Daí, você paralisa no tempo. Dá um nó. E para desatar, mais algumas areias hão de andar pela ampulheta...

domingo, junho 06, 2010

A volta

Um dia alguém me disse que sonhava muito com ele. Disse que ele viria. Estava esperando ele chegar à tarde, entre às 16h e às 17h. Era essa a hora em que ele apareceria de volta. Sempre, às 15h30 saia do banho, se perfumava e se debruçava na janela olhando discretamente para o fim da rua, de onde ele surgiria. Era esse perfume que ele reconheceria, a conheceu com ele, conviveu ao lado dela com esse cheiro e, portanto, ela não poderia mudar odor para não confundi-lo. Achava justo.

Me contou que ele se foi numa tarde de domingo. Ele saiu um pouco mais cedo que de costume, saiu pela porta da frente, apressado. Ela jura que foi atrás de algum rabo de saia que viu passar. Ele não deu explicações. Apenas não mais voltou. Desde então ela o espera na janela, entre às 16h e 17h. Já fazia sete meses e ele se quer deu notícias. Mas ela jurava que ele voltaria. Ele estaria ali, na porta de sua casa entre às 16h e às 17h de uma tarde qualquer. Por isso ela nunca faltava ao compromisso. Não se perdoaria se um dia ele aparecesse e ela não estivesse ali para recebe-lo.

O perfume já havia sido comprado três vezes. O vidro era pequeno e não podia faltar. Ele talvez não a reconhecesse sem esse cheiro. A porta da casa também era aberta sempre no horário marcado para que ele não tivesse dúvidas que voltou. Era o seu lugar. Ele haveria de voltar.

Os vizinhos já comentavam, falavam injúrias. Não se sabe como ela conseguia viver assim nessa esperança. Diziam "esperança vã". Ela dava de ouvidos. Continuava a se perfumar. "Ele vem, eu sei", dizia ela.

Um ano se passou, e ela continuava a se pendurar na janela e olhar discretamente para o fim da rua. Tinha certeza que ele voltaria. A porta aberta e o perfume no ar, não haveria como ele se enganar.

Todos diziam que ele parecia muito fiel, companheiro. Estava sempre ao lado dela. Não haveria como se confundir. Mas ela não podia se permitir a falhas, ele não poderia passar reto sem reconhecer a casa. Ela jogava seu corpo na janela e mirava longe. Não poderia. Não se perdoaria. E assim seguiu a espera-lo por mais dois anos, sem perder um dia se quer. Para ela, não houve um senão que a fizesse desistir. Só aquela maldita dor nas pernas, que um dia a levou para a emergência mais próxima. Ela não mais voltou.

A casa continua de portas abertas. Toda tarde alguém abre as portas e borrifa o perfume. Ele vai voltar. Ele fora o cão mais fiel que todos conheceram naquela vizinhança, e ela, a dona mais dedicada que todos já tiveram notícias por aquelas bandas de lá.

sexta-feira, junho 04, 2010

DICA DE FILME

Vejam o filme "A onda" (Die Welle) e pensem, pensem, pensem...

Um filme sobre o vazio que não deve ser preenchido e que, segundo uma amiga psicóloga das boas "Precisamos aprender a conviver com ele".

Segue o trailer: http://www.youtube.com/watch?v=ZbyCJEIRBaA

Vejam e depois me passem as impressões. Eu não consigo parar de pensar...
Beijos e bom fim de semana!

sexta-feira, maio 28, 2010

sábado, maio 22, 2010

INDEPENDENTEMENTE CONFUSA E A SUPER SEGURA EM: A EMERGÊNCIA DO MUSO

As duas amigas estão comendo em um japonês da Zona Sul. De repente a Super Segura começa a passar mal. A Independentemente Confusa não sabe ao certo o que fazer, pois, raras foram as vezes que viu a amiga reclamando de dor.

A Super Segura sai às pressas, entra numa farmácia, compra um remédio para úlcera - que ela toma desde seus 15 anos -, e volta para o restaurante. Uma hora depois ela não melhorou e as duas decidem correr para a emergência de um hospital.

As duas entram na sala de espera de uma clínica na Gávea e dão de cara com um dos maiores musos do Brasil sentadinho, sozinho. Elas se entreolharam em cumplicidade. A Super Segura estava pálida, com as mãos no estômago. Isso até preocupou a Independentemente Confusa, que, de certo modo, ficou culpada por ficar “empolgada” de estar ali, NAQUELE momento.

Sentaram. Um silêncio sepulcral e de repente a Independentemente Confusa repara o rapaz, no banco oposto, balançando os braços para cima, para o lado, para baixo, com o olhar fixo no Iphone. Estava jogando um joguinho desses animados que distraem qualquer um. Ele olha pra cima:

- Oi, é que estou esperando há um tempão e não tinha o que fazer, né, daí to aqui... jogando - Comenta, muito sem graça, o muso, depois de perceber o olhar de curiosidade da Independentemente Confusa.

- Ah, não se preocupe. Estava só lembrando que hoje à tarde eu estava brincado com um joguinho também – Responde rápido, a Independentemente Confusa.

- Ah, sim, é bem divertido. Distrai. Ficar aqui esperando horas requer um pouco mais do que só paciência, né? - O muso continua o papo.

- Sim, sim. É verdade. É bom que faz passar o tempo sem sentir – Sorri, a Independentemente Confusa.

- Mas as pessoas olham e não entendem nada, assim como você... – Comenta, com os olhos arregalados, o muso.

- Eu entendi, sim. É que a gente fica parecendo retardado levantando o braço, seguindo com os olhos um aparelhinho, né? – Completa, a Independentemente Confusa.

- Ah, retardo, né? Sim. Era assim que estava me vendo – Indaga entre risos, o moço.

- Hahahaaha! Imagina, só visualizei a cena de hoje, eu com um quadrado levantando e descendo, pra um lado e para o outro. As pessoas passavam olhando, olhando... – Tenta amenizar o comentário anterior, a Independentemente Confusa.

O atendente da clínica grita o nome da Super Segura. A Independentemente Confusa pede licença ao rapaz muso e acompanha a amiga. Em um dos boxs de atendimento, enquanto a médica faz perguntas à Super Segura, a Independentemente Confusa ouve os médicos comentando um caso grave. “Dor no peito... Acho que teremos que internar hoje mesmo. Onde está o paciente? Ah, sim, na espera”. “Pronto, é o muso!”, pensa imediatamente a Independentemente Confusa. Não tinha mais ninguém na espera, tinha de ser ele.

Ela corre para sala de espera e vê o muso ao telefone e ouve “Tô aqui na emergência esperando os resultados os exames. Pois é, eles quiseram fazer imediatamente”. Ela aperta a blusa na altura do coração e já imagina um fim trágico para o rapaz. Volta para ver a amiga Super Segura, mas ela está bem, tomando remédio na veia e conversando com o enfermeiro. Corre para fora novamente e começa a querer distrair o muso:

- E aí, rapaz, o que te traz aqui?

- Saúde... A idade... – Responde evasivo, o muso.

- Ah, sim. A saúde... – Retruca na mesma linha, a Independentemente Confusa.

De repente a Segura Segura surge na porta de saída. Já está bem. Ela para e pede uma água. A Independentemente Confusa conta o que está acontecendo à amiga. Elas vêem uma unidade móvel de dor torácica entrar no pátio da clínica e já imaginam que irão levar o muso. Elas voltam à sala de espera para tentar descobrir a verdade:

- Olha só, sua amiga já melhorou. Está tudo bem? - Pergunta, o muso.

- Pois é, não era nada demais, só uma crise de gastrite – Responde a Super Segura.

- Hum, bom, então daqui a pouco passa. O duro é a gente sempre achar que está cheio de saúde e de repente começa a sentir alguma coisa estranha – Comenta, o muso.

- É, nada agradável essa situação – Comenta a Super Segura.

- Mas nada é por acaso, conheci vocês duas, uma simpatia só – Afirma com um sorriso largo, o muso.

- Ah, imagina, obrigada – Respondem, as duas amigas, fazendo dengo para o muso.

- Então, o que vão fazer depois daqui? – Pergunta o muso.

- Acho que vamos pra casa mesmo – Responde a Super Segura – Ainda que não pareça, não estou muito bem – sorri.

- Ah, que pena, não topam um papo no temaki, aqui em baixo, pra relaxar? – Convida, o muso.

E o nome do muso é chamado em alto e bom som. Ele corre sem esperar respostas ao convite. Olha pra trás e faz sinal para elas o esperarem. As duas se entreolham e rapidamente já se preparam para consolá-lo. É uma pena, elas têm certeza que ele sairá de lá direto para a unidade móvel. Entreolham-se com sentimento de pena. Mas logo a Independentemente Confusa vê a oportunidade de ficarem amigas do muso, se aproximarem. Já estavam sentindo que ele iria precisar muito delas naquele momento, sozinho, numa emergência de hospital. Elas começam a arrumar uma a outra, passam batom, ajeitam o cabelo fora do lugar. Ouvem os médicos se prepararem para a retirada do paciente e ficam de pé, prontas para o muso cair em seus braços.

De repente vêem um farol forte, olham para trás, pelo vidro da recepção, e uma pick-up está parada com motor ligado na porta da clínica. O muso sai apressado, com papeis em uma das mãos e o Iphone na outra. Faz sinal para o carro. O vidro do carro desce, uma musa o espera. Abre a porta do carona e o muso entra. Ele vê as duas amigas, arrumadíssimas na recepção. “Grita baixo” um “muito obrigada pela companhia”, as duas acenam através do vidro. Olham para frente e uma moça, de uns 65 anos é levada de maca para dentro da unidade móvel para dor torácica. Entreolham-se e:

- Porque fui cair nas suas baboseiras imaginárias outra vez... – Lamenta, a Super Segura, levando a mão ao estômago novamente.

- Mas amiga... Eu achei que... – Tenta falar, a Independentemente Confusa.

- Vamos amiga, vamos! – Corta a conversa, a Super Segura.

As duas vão andando em direção ao carro. A Super Segura balança a cabeça baixa negativamente, enquanto a Independentemente Confusa não para de tenta explicar. Entram no carro com sentimento de frustração passageira e vão embora, a Super Segura em silêncio na direção e a Independentemente Confusa, sem parar de falar, no carona.

domingo, maio 09, 2010

Passa

O tempo
passa

anoto
guardo

e da próxima
menos.

quinta-feira, abril 01, 2010

INDEPENTENTEMENTE CONFUSA E SUPER SEGURA EM: O PLATÔNICO - 1

Um dia a Independentemente Confusa começa a falar em um tal menino, que ela encontra na internet, e que já viu umas duas vezes por conta de encontros casuais. Ele é amigo de alguns amigos de outros amigos dela. Para ela, ele é um cara inteligente e interessante, e assim, acabou despertando a imaginação de um caso perfeito pra aplacar sua carência momentânea.


- Amiga, ele é incrível. Fala cada coisa inteligente – conta entre suspiros e mãos trêmulas à Super Segura.

- Tá, mas vocês vão se ver quando? – Indaga, com uma certa preguiça, a Super Segura.

- Pô amiga, não sei. Não sei se é pra a gente se ver. Eu gosto de ler o que ele escreve...


Um mês se passa, e as amigas decidem ir a uma festa badalada da Zona Sul. Só se comenta das fantasias que irão usar, de quem vão encontrar, das fofocas entre amigos. Elas se encontram no apartamento da Super Segura, demoram horas colando estrelinhas e espalhando a purpurina. Seguem animadas pra festa. Lá pelas tantas, a Independentemente Confusa decide dar uma voltinha pela festa... e de repente:

- Ei, ei! Você por aqui?!

Ela olha pra trás, desconfiada, vai chegando bem perto do menino com óculos escuros, chapéu, colar de havaiana, uma peruca roxa. Ela chega mais perto, esfrega o queixo, olha para os lados:

- Oi, mas, quem é você? – Diz insegura , a Independentemente Confusa.

- Eu, cara! O amigo da Carol, irmã da Julia, namorada do Pedro – Relembra o moço, recolocando os óculos.


Nessa hora a Independentemente Confusa sente seu coração disparar. "É ele! É o Platônico!" Ela pensa rápido, faz cara de "ah, sim, claro" e fala:


- Ah, sim, claro. Poxa! Que legal te ver!! – Abraça o moço – Essa aqui é minha amiga – apresenta a Super Segura, que dá um sorriso largo e continua sem falar nada.

- Oi, prazer – cumprimenta de longe – E aí, depois daqui, vai fazer o que? – Nessa hora o Platônico olha profundamente pra Independentemente Confusa, pega seu copo e dá um fole bem demorado.

- Eu? Eu... eu vou pra casa – sorri amarelo, pega o copo da mão dele e bebe três goles diretos.


Aqui a Independentemente Confusa já está completamente dominada pelo desespero de não saber o que dizer frente a frente ao seu ideal de casamento perfeito e feliz.


- Ah, pra casa? É? Sério mesmo? – Insiste o Platônico.

- É... – responde desorientada, a Independentemente Confusa.

- Poxa, eu acho que ainda vou pra aquele bar ali da esquina.

- Ah, sim. Legal – Se segura a Independentemente Confusa.

- Bom, vou indo – se despede o Platônico.

- Ah tá. Beijos.

- Bom te encontrar além da internet – arremata boniiiiiiiiiito, o Platônico.

- Sim, também adorei – A Independentemente Confusa se contem e sai com muita vontade de gritar!


Olha pro lado e lá está a Super Segura olhando com um sorriso de canto, esperando a euforia da amiga.


- Amigaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Putaquelpariu! Esse aí é o...

- Platônico.

- Isso!! Como você sabe?!! - Pergunta surpresa a Independentemente Confusa.

- Ah, só podia ser, ora. E aíiiiii? - Pergunta curiosa a Super Segura.

- E aí que não sei. Sei lá. Sei lá não sei. Vamos pro bar!!!!!!!!!!!! - decide a Independentemente Confusa.

- Hahahahahahaha! Tá bom. Mas antes vamos ali pegar mais um cerveja.


Umas duas horas depois as duas saem da festa e correm pro bar da esquina. Olham em volta. O bar está cheio, entupido de gente. Elas pegam mais uma cerveja, conversam com um e com outro. A Independentemente Confusa não para de olhar em volta. Nada do Platônico. Decidem ir embora. A Super Segura vai consolando a amiga.

Dias se passam e os dois online, um pouco de papo, mas nada. A Independentemente Confusa decide parar com essa coisa platônica. Arruma um namorico e segue sua vida. Às vezes ela bate um papo com o Platônico e tal, mas nada demais. Até um dia num desses MNSs da vida:


- Ah, você vai amanhã? - Pergunta o Platônico.

- Vou sim. Tô precisando me divertir um pouco - Responde reticente a Independentemente Confusa.

- Estou precisando também. Eu vou. Te encontro lá! Você vai, né? - Desbafa o Platônico

- Vou, vou sim. Você vai com quem? - Investiga a Independentemente Confusa.

- Vou encontrar você lá, ué?! Ou é melhor não? - Joga na roda, o esperto Platônico.


Silêncio. Coração dispara! Ela não sabe o que responder. Ela vai estar com o seu peguete. "Putaquilpariu! Sempre quis que esse homem tomasse alguma atitude, mas tinha que ser DESSA vez?!" Pensa alto a Independentemente Confusa. Liga rápido pra Super Segura, que sempre tem o melhor conselho a seguir:


- Amigaaaaaaa! O que que eu façoooooooo? - Pergunta enlouquecida a Independentemente Confusa depois de explicar a situação.

- Ué? Diz a verdade. Fala que é melhor outro dia, que amanhã estará acompanhada. Ou esse cara pensa que você fica esperando ele há meses? - Impele a Super Segura.

- Será?! Ai meu-Deus! Vou escrever - Decide a Independentemente Confusa.


Desliga o telefone e escreve: "Melhor deixar pra próxima, querido. Amanhã estarei acompanhada na festa. Se tivesse me dito antes...". Ele responde: "ok". Ela pensa "ok????? ok???? Ok! Chega disso. Chega dessa emoção. Pô, não mereço isso!". Fecha o notebook, respira, liga pro peguete, se enche de coragem e diz:

- Oi, tudo bem? É... Então, bonitinho... Estava aqui pensando... Não vou à festa amanhã. Cansei, sabe. E sabe, melhor a gente parar por aqui. Acho que preciso ficar sozinha. Não quero te fazer mal, sabe. Não, não, o problema é comigo, não é com você. Relaxa. Adoro você. Seremos bons amigos.


Vai tomar um banho bem demorado. Deita na cama e pensa no dia seguinte, quando abrirá seu note book e verá o verdinho piscando do platônico online...

quarta-feira, março 24, 2010

Juliana...

Um dia Juliana olhou pela janela e viu que ventava. As árvores longínquas dançavam ao som do movimento. Juliana olhava com vontade de estar lá, no topo, bailando com as folhas que caiam e giravam até o chão. Lá de dentro ela tremia de frio, o ar condicionado estava no máximo. Tinham homens na sala. O casaquinho fino que apertava os pulsos, nada acalentava seu coração vazio. E todo dia era assim. Lá se vai Juliana pela rua atrás das árvores que via lá de longe, dançando.

sexta-feira, março 12, 2010

A song way

Ah, a música
ela não para
dentro de mim

entra
sopra
morde
e fica

beija
lambe
esfrega
e fica

joga
bate
machuca
e fica

aperta
chupa
cospe
e fica

suave
balança
distrai
e fica

segura
confia
segue
e fica

arranha
entorpece
enlouquece
e fica

raspa
assopra
cheira
e fica

engole
enfia
e finca

****

(Gardênia Vargas - 12/mar/10)