terça-feira, maio 01, 2012

O menino do violino



Mais um dia ela corre afoita. Quase perde o das 9h35. Chega, se arruma no banco, põe as bolsas e casaco de lado para poder achar o pente , o espelho e o batom. Se arruma depressa e agradece o pequeno trânsito causado pela chuva fina. Deu tempo. Ela está pronta.

A condução para e lá está ele, o menino do violino. Entra meio desajeitado, arruma o cabelo molhado, sacode a capa do instrumento e paga para passar da roleta. Eis o grande instante. Ele passa por ela, olha pra frente, procura um acento vazio.

Lisbela contempla o momento e reconhece o ar agitado. Ela não olha mais pra trás. A viagem é regida pelos desenhos do vento entre seus dedos. Mãos na altura do lábios. Seus olhos que fitam o nada, sempre de lado. Ela quer que ele a veja em seu melhor ângulo. Jura que é observada e que ele corre para encontrá-la todos os dias.

Seguem assim os minutos. De repente, a hora de saltar. Arruma o cachecol, afofa a bolsa para não parecer cheia demais, coloca os óculos escuros e levanta. Olha em volta para procurar o violino. Não acha. Ele já desceu.

Ela segue pelas ruas torcendo para o dia passar... Amanhã ela o verá novamente.

(Gardênia Vargas 04/06/2008)

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